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Lições de um navegante para o próximo semestre

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Neste dia que inicia a jornada do próximo semestre, nada melhor do que uma boa dose de inspiração para nos ajudar a jogar ar puro nos pulmões e seguir de mente aberta para o que virá. E se o assunto é inspiração (de oxigênio ou de boas ideias), bebo na fonte do Amyr Klink, que sempre fez dela motor para os barcos que o levaram mundo afora.

Viajante profissional, sonhador de projetos colocados em prática e, principalmente, colecionador de experiências, em livre definição, dele compartilho trechos do seu último (e não tão recente) livro Não há tempo a perder (2016, Editora Tordesilhas). O título é bem sugestivo para quem está aí com a agenda cheia de planos na estufa para se tornarem realidade nos próximos cinco meses. Se esse for seu caso, aliás, vale a leitura do livro na íntegra.

Uma feliz e produtiva (nova) metade do ano para todos nós!


Você é dono do seu tempo?

“Quando colocamos um projeto em prática, constatamos que podemos mudar, refazer, consertar milhares de coisas. Quase tudo, na verdade. Com exceção do tempo. Uma hora perdida é uma hora perdida. Esse é um bem não reciclável, indomável, que não podemos possuir. Já fiquei fascinado pela ideia de possuir o tempo. O pior é que perdemos a consciência dessa grandeza - do escoamento contínuo de possibilidades - quando trabalhamos sem um propósito, quando estamos à deriva.”

E meu lugar no sofá é seguro, mesmo?

“A busca pela segurança total é uma ficção, assim como a liberdade sem limite nos engana. Podemos nos considerar seguros, confortáveis, vendo televisão no sofá, postando fotos no Facebook, adiando decisões importantes só por mais um dia, mais uma hora, sem plena consciência do risco. O tempo escorrendo. E há o risco de você não seguir adiante com aquele plano, não apostar na ideia, não insistir, não construir, não finalizar. (...). Se a gente não se movimenta, não persegue, não arrisca, as coisas continuam do mesmo modo que sempre estiveram.”

Questão de sorte ou trabalho duro?

“Os maiores problemas que enfrentamos nem sempre são de natureza financeira ou técnica. O desânimo e as opiniões negativas também nos agridem de forma espetacular. É muito fácil encontrar desculpas para não fazer as coisas. Achar motivos para deixar para amanhã ou deixá-las como estão. É fácil cruzar os braços e ficar esperando soluções de algum lugar fora daqui. Sorte? Você é que constrói suas oportunidades.”

Soluções que nascem nos limites da necessidade

“O fato de ter recursos limitados, de sempre estar lutando contra a escassez, me ajudou a ser mais criativo e buscar soluções econômicas inovadoras. (...) O processo de aprendizagem é assustador, mas saudável. A limitação financeira pode nos ajustar para soluções mais inteligentes, enquanto a falta de limite nos engana facilmente. Ficamos escravos de uma não fronteira que construímos para nós mesmos, como uma falsa ideia de poder sobre o tempo. (...) As menores coisas são importantes para se progredir. Cada milímetro de esforço conta.”

Persistência x desistência: qual você escolhe?

“Surgiu quase uma indignação de não tocar para frente, o que para muita gente talvez fosse até mais fácil. Mas acredito que, quando você consome tanto tempo numa direção, aposta tanto, chega um momento em que perde um pouco a razão de desistir. Você precisa ir até as últimas consequências.”

Sobre liderar e ser líder

“Um dos aspectos mais interessantes que venho percebendo entre os líderes eficientes não é a idealizadora capacidade de comandar, o carisma, mas a capacidade de ceder. Um líder de equipe precisa conseguir o engajamento de todo mondo. (...). Os líderes mais competentes são aqueles que têm a capacidade de sacrificar a vontade própria. Essa qualidade é muito maior do que as faculdades necessárias para mandar, arrancar as pessoas da cadeira, chicotear, fazer e acontecer. (...). O sujeito que comanda precisa conhecer a base. É engraçado quando você vê uma pessoa que tem o sonho de dar a volta ao mundo, mas sem descer de sua posição de dono do barco, de coordenador do processo, de líder da instituição. Há quem não consiga descer e isso fará muita diferença na produtividade da equipe. Se você simplesmente chama a atenção de quem está trabalhando na parte hidráulica, mas está tudo vazando sem nunca ter montado um circuito, sem saber como é complicado operar o sistema hidráulico, não vai conquistar autoridade genuína junto a sua equipe (...) O líder precisa saber fazer ou, pelo menos, ter tentando, constatado que não é capaz de fazer (...) É fundamental se colocar na posição de quem está abaixo. Uma das maneiras de conseguir coesão da equipe é compreender o trabalho do outro. É fundamental o rodízio de funções a bordo, que cada um faça o que não gosta de fazer para compreender as dificuldades do trabalho do outro e entender melhor a sua própria posição. Os líderes mais inteligentes são aqueles que sabem esperar, sabem pensar o conjunto e extrair o que cada um tem de melhor.”

Quando a ideia se torna uma ação

“Quando você se apaixona por uma ideia, mesmo que utópica ou extremamente arriscada, vai encontrando meios e determinação até o ponto em que acontece. Tenho um vínculo radical com algumas decisões que tomo, mergulho nelas. Lá no fundo sei que vou me empenhar inteiro, o tempo que for, até fazer. Mesmo as ideias mais absurdas podem se tornar factíveis se você se compromete a destrinchar cada pedaço do caminho."

Plano perfeito é o que sai das gavetas

“Não existem planos perfeitos, nem viagem perfeita. Mas há um momento em que você precisa partir. Sou obstinado e posso adiar a partida muitas vezes se não considerar o projeto suficientemente seguro. Mas há quem permaneça viajando no sonho. E nunca parte para colocá-lo em prática. É muito triste dar-se conta dos sonhos que encalharam, dos barcos que nunca saíram do quintal. Os planos reduzem os riscos, mas não podem assegurar que tudo vai dar certo na viagem. A parte mais importante do planejamento é quando ele sai do papel e alcança o mundo real. (...). Nesse momento é que você vai fazer o ajuste que sonhava com a própria realidade.

Do que morre um projeto?

“O que mata um projeto às vezes é a prepotência intelectual. É a imposição da solução, o fato de você não ouvir. É muito comum você não ouvir quando já tem experiência. Você precisa ter sempre uma dose de humildade. Saber ouvir, ceder.”

Habilidades que se revelam na crise

“É preciso ter muito equilíbrio emocional para enfrentar a crise. Não acredito na eficiência de uma artificial preparação para obtenção desse equilíbrio emocional. Você o adquire, na verdade, preparando-se de forma consistente e objetiva para os problemas que sempre estão por vir. Pode ser que se surpreenda encontrando capacidades que nunca imaginou ter.”

Fonte: "Não há tempo a perder" (Amyr Klink, Tordesilhas, 2016)