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Empatia: por que ela pode mudar o mundo?

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Cena 1. Casa. Seu filho corta o dedo ao manusear a faca. Felizmente você nunca se acidentou dessa forma, mas a lesão dele quase dói em você. Cena 2. Hospital. Sua irmã acaba de dar luz a uma menina. Há dois anos você se tornou mãe e agora, ao receber a notícia, parece reviver a experiência tamanha sua felicidade.

É fácil entender por que a emoção surge nos dois casos. Há uma estreita ligação entre você e quem vivenciou os fatos, o que proporciona, naturalmente, o sentimento de empatia. Mas não é preciso ter vivido algo parecido ou acompanhar a experiência de alguém próximo para entender a dor ou a alegria do outro. Se fosse assim, o cinema não seria capaz de comover com histórias fictícias ou não nos sensibilizaríamos com tragédias noticiadas pelos jornais.

O historiador da cultura, membro fundador da The School of Life e autor do livro O poder da empatia Roman Krznaric explica por que. “A capacidade de empatia é um dos maiores talentos ocultos que quase todo ser humano possui. A maioria de nós a temos - mesmo que nem sempre a utilizemos.” Ou seja: sem que a gente perceba, deslocamos nosso foco de atenção ou emoção para o outro, como se estivéssemos no lugar dele.

Empatia na prática

É claro que não conseguimos vivenciar literalmente e na mesma dimensão o sentimento do outro. Afinal, esse é um universo à parte. Cada um sente de uma forma muito particular, seja manifestando claramente a emoção ou se trancando nela. Mas tentar se colocar nesse lugar é fundamental para tentar compreender o ponto de vista alheio e, com isso, respeitar o amplo leque de diferenças entre as pessoas, como as de pensamento, crenças e ideologias.

Esse é também um dos fatores que nos faz construir relações mais harmoniosas, já que ajuda a exercitar a compreensão e a tolerância. “Empatia é a arte de se colocar no lugar do outro por meio da imaginação, compreendendo seus sentimentos e perspectivas e usando essa compreensão para guiar suas próprias ações”, diz Krznaric.

A chave para o altruísmo


Além disso, a empatia muda o mundo por que nos faz colocar em prática o altruísmo e, com isso, temos mais condições de ajudar o outro em situações de dificuldade, compreendendo melhor o que ele vive. Algumas pessoas tendem a sentir mais empatia. Outras, por motivos vários - de decepções, defesas a traços de personalidade - se distanciam dela.

Em seu livro, Roman Krznaric dá exemplos de iniciativas ao redor do mundo criadas para aflorar esse sentimento e trazê-lo ao nosso dia a dia. Compartilho duas delas. Não é preciso chegar a tanto, mas vale como inspiração. E você, já praticou a empatia hoje?

Na pele de uma idosa

Em 1979, a designer de produtos Patricia Moore trabalhava na mais importante empresa do segmento de Nova York, a Raymond Loewy, responsável pela criação da garrafa de Coca Cola e da logomarca da Shell.

Para entender como desenvolver um novo modelo de geladeira acessível para quem tinha artrite, ela fez um experimento. Com a ajuda de um maquiador profissional, ela se transformou em uma pessoa idosa. Aplicou sobre o rosto camadas de látex para ficar enrugada e prendeu braços e pernas em talas para dificultar seus movimentos, por exemplo.

Com base em suas experiências, conseguiu desenvolver uma série de produtos inovadores que facilitaram a vida de pessoas com dificuldades motoras, como descascadores de batatas e utensílios de cozinha com grossos cabos de borracha. Por isso é considerada a fundadora do design inclusivo e universal.

Adultos alunos, bebês professores

O Canadá tem hoje o programa de ensino da empatia mais bem-sucedido do mundo. Isso, mesmo: uma escola para aprender esse sentimento. No Roots of Empathy, fundado em 1995, os bebês são os professores.

Cada turma de alunos adultos “adota” um bebê e o visita regularmente ao longo de um ano escolar acompanhado da mãe ou do pai da criança. Junto com o instrutor do programa, eles observam o desenvolvimento do pequeno, discutindo suas reações emocionais e a relação com seus pais. Saiba mais sobre essa (incrível) metodologia no vídeo abaixo.

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